O Ato ou a Atitude
- Júnior Figueiredo
- 29 de mar. de 2017
- 2 min de leitura

Há poucos dias, na estação de trem, vi um homem que me chamou a atenção. Esfregava suas mãos freneticamente, torcia o pescoço para lá e para cá, enquanto suas pernas não paravam de balançar. Ele estava claramente angustiado e sua linguagem corporal o denunciava.
Num segundo momento, imaginei aquele homem contendo seus braços, pernas e pescoço, e agindo normalmente como se não houvesse problema algum. Será que isso resolveria seja lá qual fosse a tribulação que ele passava? Claro que não, o que ele expressava com o corpo era tão somente o reflexo resultante de uma atitude interna de desconforto. O ato de mexer ou não o corpo não faria diferença alguma em relação à atitude daquele coração angustiado. Vendo aquilo me dei conta de quantos de nós não carregamos as mesmas premissas de medos, angustias, frustrações e desconfortos, mas não as expressamos tão claramente com atos nas estações de trens da vida. Quantos de nós não contemos nossas mãos, braços e pernas, quando na verdade queríamos mesmo era gritar: SOCORRO! Diferente deste homem, frequentemente, nossos atos desarmonizam com nossas atitudes, o que nos deixa maquiados para vivermos “bem” socialmente.
Quantos agem com caridade em atitudes cheias de egoísmo?
Quantos pregam o amor cultivando o ódio?
Quantos falam em perdão e estão tomados pelo rancor?
Quantos dão um abraço carinhoso quando, na verdade, queriam enfiar uma faca ? Portanto, o ato não tem nada a ver com a atitude. O primeiro é apenas a ação. É a objetividade concretizada no mundo real. Já o segundo é a predisposição, a subjetividade inerente em nós.
Eis que aqui nos deparamos com a essência do evangelho. Para a antiga lei o ato era suficiente: “Não matarás”. Para Jesus, é preciso uma mudança de atitude: se não matas, mas carrega cólera contra teu irmão e deseja-lhe a morte, já é um assassino e como tal será julgado.
“Não Adulterarás” diz a lei, mas para Jesus se lanças olhar adúltero, já denuncia sua atitude interna. E assim será julgado. Sendo assim, percebemos que mediante os homens, a sociedade e até nós mesmos, nosso atos já são o bastante. “Se não dou vexame na estação de trem é porque está tudo bem comigo.” “ Se pago dízimo, faço oferta, caridade ou filantropia, está tudo bem comigo, estou com crédito.” Para Deus os atos pouco importam, e toda obra é nula se nela não houver
atitude de amor. Logo, nem sempre o balançar dos nossos braços, pernas e cabeça harmonizam com a melodia que ecoa em nossos corações.